sexta-feira, 23 de julho de 2010

"A Bailarina"


Boa noite, essa história aconteceu há algum tempo, e escolhi ela como o abre-alas pelo carinho que nutri por essa pessoa por muito tempo, independente da experiência sexual que será relatada aqui.

Ainda fazia curso de inglês lá pelos lados da Barra da Tijuca, alguns semestres se passaram e eu, como a típica nerd de turma, não falava com quase ninguém. Por vários motivos: o contato era pouco, só tínhamos aulas duas vezes por semana, uma hora por aula; não ia com a cara de quase ninguém, somente do professor, que era lindíssimo, de um colega de turma, o Ed (nos dávamos apelidos em inglês durante as aulas) e essa minha amiga, que será chamada de bailarina.

Ed era gay daquele tipo que não havia saído do armário, namorava um rapaz (que será chamado apenas de J) estudante do mesmo curso há mais de um ano e seus pais não sabiam de nada. Dizia ele que, na frente dos pais, era hetero e preconceituoso. Sempre que Ed falava isso, morria de rir, pois não imaginava ele preconceituoso com nada, muito menos sendo hetero.

O que acontecia era o seguinte, saímos sempre os quatro, sendo eu a suposta namorada de J, e a bailarina, namorada de Ed. Depois que estávamos em um local “seguro” a porta do armário se abria, Ed ficava sem aquela vergonha de andar perto de J e os dois seguiam alegremente sempre na nossa frente, nós, as meninas, acabávamos ficando para trás nos passeios.

Uma certa vez fomos ao cinema, não me lembro mais qual filme era, e isso não vem realmente ao caso. Depois de assistir, fomos comer e resolvemos dar uma esticada até o Downtown, e como de costume, Downtown pede chope.

Lá ficamos, papo vai, papo vem... e o assunto sempre vai parar em sacanagem. Não estou falando nada de mais, mas todos que bebem sabem disso.

Com dois gays na mesa, uma pergunta básica ocorreu: ”Como eles tinham descoberto sua identidade sexual?”. J nos disse que nasceu gay, vive gay e ia morrer gay com muito orgulho. Já Ed falou que foi por curiosidade, que sua primeira experiência com outro homem havia sido com um primo, mas nada de sexo, só tinha 14 anos, era curiosidade de garoto que acabou virando hábito de homem.

O problema foi que o feitiço virou contra o feiticeiro, e J, indiscreto toda vida, nos jogou na cara: “E vocês? Nunca experimentaram?”. De imediato corei, não podia ver meu rosto, mas tive certeza absoluta só pelo calor que subiu no meu rosto e pelos sorrisos de J e Ed. Vendo que estava sem graça, bailarina logo se pronunciou: “Já experimentei, mas não foi nada de mais” fez uma pausa pra mais um gole e prosseguiu: “Uns beijinhos, umas carícias... e só.”

De repente, os olhos se voltaram para mim, sei que nessa hora me corei ainda mais. Claro que já havia pensado no assunto, e hoje tenho a impressão que toda mulher é bissexual, a única diferença é que algumas sabem aproveitar e outras não. O fato foi que, até aquela época não havia experimentado, só curiosidade mesmo, achava algumas mulheres bonitas e sentia até uma certa atração por uma ou outra, mas, às vias de fato, nunca tinha ido.

Ed, apoiando o copo na mesa, falou: “Ah! Não acredito! Que isso amiga! Nunca experimentou nadica de nada?”

E eu: “Ai J, fala pra essa bicha parar com isso?”

“Eu não digo nada” disse J “se não ele não me bate quando chegar no motel”

Os risos ecoaram e por um instante eu pensei que havia me safado. Mas não, nada adiantou. J disparava aquele olhar de provocador sobre mim, Ed só se punha a rir e a bailarina estava começando a se sentir incomodada.

“Vou ao banheiro” disse ela “já volto” e começou a se levantar. Me ofereci para acompanhar e ela recusou, achei bastante estranho, mulher nenhuma recusa um convite para ir ao banheiro. Assim que ela se levantou e saiu, J se prontificou:

“Amiga! Não acredito!”

“No que J?”

“Será que você não percebeu ainda?” – J disse, com um sorriso que não conseguia conter.

“Para com isso” – interrompeu Ed – “Falei pra você que ela não curte isso.”

“Que não curte o quê Ed.” – Continuou J – “Então, meu bem, se você não percebeu, te digo logo, ela está super-interessada em você!”

“Ah! Que isso gente?” – disse eu, como se eles só estivessem querendo brincar comigo.

“Ai, não ia dizer nada.” – Ed falava meio sem-graça, e continuou da mesma maneira – “mas ela vem falando há semanas, sei lá, meses que está louca pra fazer umas coisinhas com você!”

“Sério gente?” – falei, já nem tão surpresa assim – “E essa história toda de que tinha sido só um beijinho?”

J, como se eu fosse a pessoa mais tola do mundo, falou:

“E você acreditou? Não acredito! Amiga, isso daí só não é fancha porque não atrai mulher gostosa.”

Ed e eu começamos a rir, e J prosseguiu como se tivesse comprado toda a verdade do mundo:

“E tem mais! Ela disse que esse seu jeitinho quietinha, assim, pequenininha enche ela de tesão. Disse que se te pegasse, ia te mostrar quem é que manda e como se faz.”

Tenho que confessar: devo muito ao J por causa dessa frase. Foi isso que ele disse que me fez surtar. Já nessa época não suportava que tentassem me dominar em sentido algum. E, com voz imponente, anunciei:

“Então vou mostrar pra ela quem é que realmente manda.”

Eles se entreolharam com os olhos arregalados, não conheciam esse meu lado. Acho até que tinham levado isso como uma brincadeira qualquer. Mas já estava ficando tarde, passavam das duas da manhã e o teor alcoólico já estava alto demais para se arrepender de qualquer coisa. Pedi a conta e joguei tudo no Amex, falei que depois agente rachava. Nisso a bailarina estava voltando e se assustou ao ver que já estávamos de partida. Quando ela perguntou o porque de todo mundo ter decidido ir embora, simplesmente disse:

“Estou com pressa, tenho que resolver uma coisa.”

Fomos andando apressados para o ponto de táxi, lá nos despedimos dos meninos, que entraram no primeiro táxi, logo assim que eles se foram ela começou a dizer:

“Olha, se o J ou o Ed falaram alguma coisa...”

Olhei bem nos seus olhos, aqueles olhos cor de mel, sobre o nariz fino e a boca que parecia ter sido desenhada, dei um passo à frente, com a mão esquerda segurei firme seu cabelo cacheado, e com a direita acariciei seu rosto. Fui aproximando meu rosto do dela e quase sussurrei:

“Quer dizer que você pensa que ia me mostrar quem é que manda? Que ia me mostrar como é que se faz?” Encostei meus lábios nos dela com bastante força e empurrei minha língua boca a dentro, sentindo o gosto de chope, cigarro e saliva misturado. “Você não sabe nada sobre mim.”

Dei aquele sorriso sádico só meu, e vi ela engolindo à seco tudo aquilo que estava acontecendo, os olhos bem abertos me fitando, aquela expressão de medo. Por muito tempo essa expressão de medo nos seus olhos me excitou, adorava vê-la com medo.

Pegamos um táxi e fomos pro Dunas, um dos melhores motéis do local, e era bem perto, estava excitada de mais para esperar, e, sendo minha noite de estréia com uma mulher, tinha que ser algo memorável.

Chegando lá, não houve tempo nem para o chuveirinho, mas ela estava bem limpa, devia ter se lavado no banheiro só para garantir. Pude sentir sua pele macia, seu corpo quente junto ao meu. Aquela virilha bem feita, o seu cheiro de perfume doce, coisas que só mulheres reparam realmente. Brinquei com ela como se brinca com um cachorro, fui um tanto desastrada, mas me saí surpreendentemente bem para a primeira vez com uma mulher. Gozamos várias vezes naquela noite, e deixei umas marcas que demoraram dias para sair de sua pela.

Aquela noite ampliou minha vida sexual, não como dominadora, nisso já estava escolada. Mas sim como mulher, descobri um prazer que nunca antes tinha pensado ser tão bom, e me deu vontade de repetir várias e várias vezes.

Repetimos, mas a vida toma rumos que nem sempre desejamos, e, depois de um ano e do término do curso foi ficando cada vez mais difícil nos encontrar e essa coisa toda foi ficando pra lá. Uma época pesava que estivesse apaixonada por ela e ela por mim, era verdade. Verdade também é que paixão é assim, queima tudo de uma vez, e depois não sobra nada.

Espero que tenham gostado. Beijos, Madame S.



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